Shifu Erich se torna membro do Monastério Chán Wǔ

Neste mês de Agosto, a AAMSKF se associou ao Monastério Chán Wǔ (国际禅武联盟), na cidade de Guăngzhōu, na China.

Shifu Erich nos conta os detalhes dessa viagem à China e sobre a sua estadia no Monastério.


Entrevistador: Mestre, conta pra gente como se iniciou esse processo de viajar para a China.

Shifu Erich: Bom, na verdade eu sempre quis visitar a China e os Templos. A oportunidade apareceu por eu estar fazendo um curso do idioma chinês à distância ministrado pelo Shifu Cleber Souza da AKX Academia Kung Fu Xuexiao. Durante esse curso, houve um concurso onde eu ganhei uma viagem para conhecer a China com ele, por ter tido o vídeo mais votado no Facebook.

Entrevistador: E se associar ao Monastério de Chán Wǔ já fazia parte dos planos dessa viagem então?

Shifu Erich: Inicialmente, não. Como o concurso era aberto a qualquer pessoa, a ideia inicial era visitar os pontos mais turísticos, como a Muralha da China, a Praça Celestial e outros. Mas como eu também sou praticante de artes marciais, o Shifu Cleber acabou adicionando o curso da Chán Wǔ no pacote, para que nós dois pudéssemos participar.

Shifu Erich e Shifu Cleber voam para a China

Entrevistador: E como foi a viagem pra lá?

Shifu Erich: Foram mais ou menos umas 12 horas até Dubai, onde nós passamos a noite em um hotel, e depois mais um vôo de mais ou menos 8 horas até a China. Chegando lá, a van do monastério nos buscou no aeroporto e a gente foi direto pra lá.

Entrevistador: Mas o Mestre conheceu algumas partes da China?

Shifu Erich: Como a gente tinha pago o curso, não deu pra ver muita coisa não. Mas o pacote incluiu algumas atividades externas, como por exemplo visitar o Museu de Artes Marciais de Fúshān (佛山), que é o berço das artes marciais chinesas. Mas o monastério em si já era gigantesco, tinha uma área enorme.

Entrevistador: E como foi a recepção no monastério?

Shifu Erich: O motorista levou a gente pros alojamentos, que eram tipo um hotel normal. Quando eu entrei no meu quarto, os uniformes já estavam lá tudo certinho. E no outro dia, 6 horas da manhã já bateram na porta pra chamar para se apresentar para tomar café, e depois fazer a contagem para a apresentação de boas-vindas.

Entrevistador: Tinha muita gente lá, Mestre?

Shifu Erich: Nossa, tinha muita gente mesmo. Quando chegamos no pátio era aquela multidão vestida com o uniforme do monastério. Haviam vários tipos de cursos diferentes ocorrendo ao mesmo tempo.

Entrevistador: E como foi esse curso que o Mestre participou?

Shifu Erich: Como era minha primeira vez lá, eu entrei no curso de Nível 1, que é o requisito básico para se associar ao monastério, e depois fazer os outros níveis. Mesmo tendo em vista que os participantes tinham nível avançado, o treino foi bem puxado e ao final ainda tinha uma avaliação muito séria.

Entrevistador: E de que consistiam os treinos?

Shifu Erich: O curso era focado na Dança do Leão em plataformas e algumas armas, porque a ideia deles é chamar toda a comunidade chinesa de outros países e propagar essa expressão cultural não só na China mas em outros lugares do mundo. Não só esse curso de Dança do Leão, mas outros cursos que eles oferecem também.

Entrevistador: Mas e como se dava a comunicação durante o curso? O pessoal só conversava em chinês?

Shifu Erich: Não. A maioria da comunicação era feita em inglês mesmo. Muito poucas pessoas falavam chinês lá, mesmo pela diversidade do público que participa.

Entrevistador: Então uma pessoa do Brasil que não saiba falar chinês pode ir fazer esse curso tranquilo só com o inglês?

Shifu Erich: Sim, mas eu percebi que o curso do Shifu Cleber me deu uma base muito boa para pelo menos entender o que os chineses estavam falando. Quando as pessoas percebiam que você se esforçava pra tentar se comunicar em chinês elas tinha uma extrema boa-vontade de te ajudar a entender, por isso eu recomendo. Mas fora isso tem o custo da viagem e do monastério, que não é barato!

Entrevistador: Mas o Mestre acha que vale o investimento?

Shifu Erich: O mais importante é a propagação da cultura para os outros países, então as entidades governamentais ou as famílias que enviam os chineses para fazer esse curso não estão em busca de retorno financeiro. Nós tivemos, por exemplo, uma palestra com o Cônsul da China, vários governantes e o Secretário de Esportes, falando sobre a importância dessa propagação.

Entrevistador: E quantos dias o Mestre ficou lá?

Shifu Erich: Foram 18 dias no monastério. O valor pago incluía a estadia num alojamento privado, todas as refeições e as atividades externas que havia planejado. A única coisa que eu gastei foi que eu tenho uma dieta rica em frutas, então eu tinha de dar umas saídas pra comprar separado, pra poder aguentar aquele treino intensivo.

Entrevistador: Falando disso, como eram as refeições?

Shifu Erich: A gente era separado por turmas para as refeições, e num contexto geral a comida era bem diferente. Você vai comer água-viva, enguias, muito pato, tipos de verduras diferentes, até mesmo muito caldo que eles tomam, coisas essas que a gente não está acostumado. E tem essa plataforma giratória na mesa, as pessoas espetam o kuàizi (palitinhos) na comida, depois põem no prato, na boca, espeta de novo na comida, então é uma tradição muito diferente mesmo. Em alguns horários tinham frutas, mas não inteira, já vinha toda fatiada, porque a proposta é mesmo compartilhar.

Entrevistador: E como era a rotina dentro do monastério?

Shifu Erich: O cronograma diário começava com um aquecimento bem parecido com o da nossa escola, depois os 8 Brocados de Seda (Bā Duàn Jǐn – 八段錦), e só então a gente ia tomar o café da manhã. Depois de uma pequena pausa a gente voltava para treinar as técnicas do exame e treino intensivo de musculatura. Isso ía até mais ou menos 1 da tarde, onde a gente tinha 1 hora de intervalo para o almoço. Depois mais treino e algumas outras atividades como meditação, apresentações de técnicas e palestras. Geralmente as atividades acabavam às 10 horas da noite.

Entrevistador: Teve alguma coisa que o Mestre achou que era diferente do que se faz aqui no Brasil?

Shifu Erich: Muito pelo ao contrário, os treinos eram muito parecidos, foi até uma surpresa ver por exemplo os Brocados serem tão parecidos com o que eu aprendi quando criança. O que impressiona é ver uma quantidade tão grande de pessoas fazendo os exercícios juntos, porque quando eles vêem que alguma pessoa está com dificuldade em pegar o movimento, eles puxam as pessoas mais experientes para perto delas, para que todos consigam fazer – esse que é o objetivo.

Entrevistador: E as atividades incluiram também a limpeza do monastério, provavelmente, não é verdade?

Shifu Erich: Muitas atividades de arrumação e limpeza, sim. A pessoa que vai participar desse curso pode esperar de tudo, assim como na nossa escola, porque esse é o princípio. A humildade vem daí.

Entrevistador: E mudando um pouco de assunto, o Mestre tem uma história engraçada com um Louva-a-Deus que apareceu no monastério. Conta pra gente como foi isso?

Shifu Erich: Essa história é um barato. A gente estava treinando e um Louva-a-Deus veio e pousou na minha cabeça, porque aonde eu vou esse inseto me persegue. Aí um dos monges estava com um filhinho e o menino veio tentar pegá-lo porque ele queria comer o bichinho. Aí eu dei um jeito de colocar ele longe do “mongezinho”, mas até hoje eu não sei se ele queria mesmo comer o inseto ou se eles estavam brincando porque sabiam que eu tinha uma escola do estilo Louva-a-Deus.

Shifu Erich e um visitante inusitado

Entrevistador: Voltando ao assunto das aulas, como que eram os equipamentos?

Shifu Erich: Tinham muitos leões, instrumentos musicais, como o tambor, pratos e gongos, e algumas armas que foram passadas pra gente. As cabeças dos leões para treino eram super pesadas, para que a pessoa criasse força muscular para poder suportar as manobras na plataforma, como por exemplo segurar a pessoa quando o leão fosse comer a alface. As duas cabeças mais pesadas pesavam 100 e 60 kilos.

Entrevistador: Mas o Mestre também aprendeu novas rotinas com armas?

Shifu Erich: Sim, o responsável pelas aulas também ministrou algumas rotinas de armas. Fora isso, havia um Malasiano que queria aprender o Punhal Duplo comigo e eu aprendi uma rotina de outra arma com ele, trocando assim experiências.

Entrevistador: E falando sobre o principal, como foi o exame?

Shifu Erich: No exame você tinha de apresentar as rotinas do leão e a parte da resistência. Foi bem puxado, eu particularmente estava com um problema de hérnia na época, mas mesmo assim consegui pegar o certificado e virar membro do monastério.

Entrevistador: E é verdade que depois do exame, os aprovados ainda tiveram uma série de atividades?

Shifu Erich: Sim, por exemplo nós tivemos de nos apresentar tocando a música do leão para os convidados do monastério verem os novos formandos que vão propagar a expressão cultural para outros países. Tinha muita gente importante lá, como o Secretário do Turismo, da Cultura e dos Esportes.

Entrevistador: Fazendo um apanhado geral, como o Mestre vê essa experiência?

Shifu Erich: Realmente, foi uma oportunidade que apareceu meio assim de surpresa, mas valeu muito a pena pra nossa escola, porque são poucas escolas que têm uma pessoa certificada e associada a um monastério da China. Além disso, conhecer um pouco da China, principalmente Fúshān, foi muito importante pra mim. É algo que eu realmente recomendo a todos os nossos alunos.


1 Comentário

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  1. Flávio Giacomo

    Que experiência sensacional!!!! É algo para a vida toda!

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